Pagamento Instantâneo no Brasil: Entenda Como Vai Funcionar
Nova modalidade de pagamento permitirá transações financeiras entre pessoas e empresas no Brasil de forma imediata e por custo baixo. Basta ter um celular e não é necessário ter conta em banco.
O Banco Central do Brasil apresentou no final de 2018 o projeto de pagamento instantâneo no Brasil, com objetivo de criar uma modalidade de transações eletrônicas de alta velocidade, disponíveis 24 horas por dia pelo celular, e válida para qualquer estabelecimento no país.
Com a criação do projeto, a tendência é que as antigas TED (Transferência Eletrônica Disponível) e DOC (Documento de Ordem de Crédito) sejam superadas, já que o pagamento instantâneo tem compensação imediata por um custo muito menor, enquanto TED e DOC funcionam apenas das 6h30 as 17h em dias úteis.
Outra vantagem será a compensação de boleto bancário, que atualmente demora até 3 dias, mas com a nova modalidade será compensado em segundos. O projeto também visa diminuir o uso do dinheiro em espécie, que é mais custoso para instituições e governo.
As transações poderão ser feitas de pessoa para pessoa, pessoa para empresa, empresa para empresa, e até para o governo.
Bancos, bandeiras de cartão e fintechs demonstraram apoio à iniciativa e pretendem aderir a nova plataforma criada pelo BC. Os testes iniciaram em fevereiro de 2020, com previsão de lançamento com os primeiros recursos para novembro de 2020.
Por um lado os grandes bancos perderão lucro pela competição do pagamento instantâneo contra os pagamentos via TED e DOC, que hoje podem custar até R$ 20,00. A transferência pelo novo sistema tem custo estimado de um dígito de centavos. Mas essa já era uma adaptação necessária, já que bancos digitais como Nubank, Inter e PagBank já oferecem transferências gratuitas para os usuários há alguns anos, retirando grande fatia de lucros das redes bancárias.
Plataforma criada pelo Banco Central é unificada
O BC criou uma plataforma unificada por onde toda a operação funcionará. Toda liquidação de valores será feita de forma eletrônica e em tempo real entre as instituições financeiras.
Para que a transferência seja concretiza será necessário apenas um dado identificador, como CPF, e-mail ou celular, tornando seu uso muito mais prático comparado ao modelo atual que muitos dados são exigidos.
O Banco Central será o responsável pelo banco de dados e administração da plataforma, mas ela será interoperável por qualquer entidade ligada à iniciativa, seja um grande banco ou uma pequena fintech. Portanto, diferente das plataformas chinesas de pagamento instantâneo Wechat e Alipay, que não conversam entre si, a solução brasileira terá todas as instituições financeiras participantes conectadas.
O sistema será apresentado aos usuários com o nome de PIX, com marca e identidade visual, conforme revelado pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em entrevista a Globo News.
+++ PIX: Tudo que você precisa saber
Projeto Europeu fracassou
Um forte desafio do projeto brasileiro é garantir a adesão das instituições, já que ressoa o exemplo de fracasso do Banco Central Europeu, que lançou iniciativa similar em 2018 e fracassou devido a falta de adesão dos grandes bancos, tento apenas 8 pequenos bancos aderindo ao sistema. A ideia do BC Europeu era desafiar empresas como PayPal, Google, Facebook e Amazon, além das chinesas Alibaba e Tencent, que dominam o serviço na Europa.
Exemplo americano deu certo
Lançado em 2017 nos Estados Unidos, o RTP (Real-Time Payments System) é um sistema muito parecido com o brasileiro, permite que todas as instituições financeiras no país trabalhem com pagamentos instantâneos. Assim como o projeto brasileiro, o RTP garante transações praticamente em tempo real e 24 horas por dia.
Como vai funcionar na prática
Do ponto de vista do usuário, o funcionamento será muito similar aos apps de pagamentos que já conhecemos atualmente, como Mercado Pago e PicPay.
A grande diferença é que a nova plataforma reunirá todas as instituições financeiras, desde os grandes bancos (Bradesco, Itaú, Santander, entre outros), fintechs (Nubank, PagSeguro, Banco Inter, entre outros), bandeiras de cartão de crédito (Mastercard, Visa, entre outras), e demais prestadores de serviços financeiros.
QR Code
O usuário irá utilizar principalmente o QR Code, bastando abrir o aplicativo, ler o código do estabelecimento e fazer o pagamento. A confirmação da autenticidade do pagamento se dará por leitura digital ou face, e em poucos segundos a transferência é realizada.
O uso do QR Code ainda não é popular no Brasil, mas apps como PicPay estão promovendo de forma considerável seu uso, a tendência é que milhões de pessoas já estarão familiarizadas com o código QR até o lançamento da plataforma. E devido aos baixos custos da operação, se tornará popular em pouco tempo.
++ Veja quais máquinas aceitam QR Code
Dentro do aplicativo o usuário poderá ter todos os seus cartões de crédito e dados de diversos bancos cadastrados, para que possa escolher por onde deseja pagar. Caso o usuário não tenha conta em banco, o saldo poderá ficar na própria conta na plataforma, dessa forma o uso de contas bancárias poderá até entrar em desuso, e desbancarizados terão uma forma segura de receber dinheiro.
Quem pode usar
Toda pessoa física e pessoa jurídica poderá utilizar a plataforma, cada uma terá seu próprio código QR exclusivo atrelado ao seu CPF ou CNPJ, de forma a poder receber e pagar de forma instantânea 24 por dia.
Queda dos preços
Com o novo sistema aberto para entrada de qualquer banco, fintech e empresa do setor financeiro, a tendência é que numerosas empresas façam parte da plataforma, o que tende aumentar a competitividade e diminuir os custos pelo serviço.
Fim do cartão de crédito e maquininhas?
Com a criação do novo sistema e com a adoção em massa do uso de QR Code, a tendência é que o uso de maquininha de cartão passe a ter um forte concorrente entre os usuários. Não há dúvida que haverá uma queda no mercado de maquininhas.
A empresa Cielo, gigante do setor de máquinas de cartão, já está se preparando para a mudança e lançou uma conta digital que já conta com 105 mil clientes até momento.
Já as empresas Mercado Pago e PagSeguro estão incentivando cada vez mais o uso de QR Code pelo aplicativo, inclusive oferecendo reembolso do valor pago pelo cliente (o chamado cashback), tudo para fidelizar o cliente já se preparando para as mudanças no mercado.
Outras iniciativas
Antes mesmo do lançamento da plataforma do Banco Central, a fintech Spin Pay já trabalha a todo vapor em sua solução de pagamento instantâneo. As instituições ATAR Pay e Picpay são os primeiros parceiros da empresa.
Segundo o fundador empresa, Alan Chusid, o pagamento instantâneo permite uma margem líquida maior para o banco do que em uma transação de cartão, além da possibilidade de compartilhar os dados transacionais do cliente para que sejam criados produtos personalizados.